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A Natureza da Margem

Sempre existirão assuntos marginais para as sociedades. A sexualidade e o corpo humano são ainda temas disruptivos para uma determinada sociedade heteronormativa e normalizadora, de igual forma temos a natureza selvagem em ruptura e transgressão com um ideal de natureza normalizada.

O exponencial processo de urbanização do planeta denuncia uma certa vontade humana de dominar a natureza. A natureza não organizada convertida em jardins arquitectados por humanos, assim como o faz com a sexualidade, controlando a suas dimensões ocultas.

A Natureza da Margem é uma viagem colectiva a um mundo oculto regido pela sexualidade e a natureza, as obras de cada artista são testemunhos individuais dessa incursão misteriosa. Guiamos os visitantes por um gabinete de curiosidades que descreve e classifica esse ambiente através do conjunto multidisciplinar de obras.

Frederico Pompeu ilustra-nos um mundo botânico fantástico, trazendo consigo alguns desses espécimes exóticos. Com registo fotográfico analógico Pedro Ivan dá-nos a ver corpos humanos através de uma radiografia botânica, num jogo de fusão entre corpos humanos e flora criando figuras míticas. Entidades de todas as formas desfrutam desde mundo, Gezo Marques esculpe-nos corpos de madeira que emergem da densa vegetação, Margarida Oliveira utiliza a azulejaria numa interessante abordagem sobre o corpo feminino, José Aparício Gonçalves com as suas colagens conta histórias de prazer e com o registo vídeo de Tales Frey somos transportados para rituais onde o corpo entra em diálogo com o meio ambiente. Elisabete Marques mostra o coração desse mundo vegetal fabricando jardins em madeira e Rita Feliciano constrói com tecido uma figura humana da qual brota uma natureza luxuriante.

Margem é tão-somente uma miragem, afinal percebemos que este é um mundo que se faz de corpos humanos em diálogo com essa ideia utópica de uma natureza primitiva, porque é em corpos que vivemos, somos e nos relacionamos com o mundo, é em corpos que temos prazer e fé.

 
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Curadoria de José Aparício Gonçalves

“Com vontade de trabalhar os temas-chave da sexualidade e da natureza dentro da abordagem do movimento Queer, propus fazer uma exposição colectiva inserida na programação do 20º Festival Queer Lisboa, decidindo reunir uma colectiva de artistas com o objectivo de contribuírem para a reflexão conjunta sobre esses temas e desenvolver uma materialização para esse universo.

É ainda de destacar a dupla inscrição que faço neste trabalho, se por um lado participo como artista por outro apresento-me como curador desta exposição, reflectindo por isso sobre o próprio papel do artista que navega entre a criação e a curadoria. Enquanto curador, e de acordo com a filosofia expositiva da Oficina Marques, a minha proposta vai no sentido de produzir uma exposição total, a exposição enquanto modo de ver, onde as obras assumidamente dialogam entre si e com o espaço expositivo, considerando que o espaço se configura em si como emissor de mensagens e ideias.

Ao transcender a dimensão exclusivamente expositiva as obras expostas concretizam-se como discursos/testemunhos individuais nesse grande texto colectivo que pode ser uma exposição de arte. Move-me o impulso artístico e a crença da importância da arte e sua capacidade de se infiltrar na vida das pessoas, numa perspectiva em que a arte e o belo devem fazer parte da vida quotidiana de todos, lembrando sempre o seu poder transformador, porque considero que ela ajuda a produzirmos visualizações identitárias sobre nós próprios.”

 
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