A Natureza da Margem
Sempre existirão assuntos marginais para as sociedades. A sexualidade e o corpo humano são ainda temas disruptivos para uma determinada sociedade heteronormativa e normalizadora, de igual forma temos a natureza selvagem em ruptura e transgressão com um ideal de natureza normalizada.
O exponencial processo de urbanização do planeta denuncia uma certa vontade humana de dominar a natureza. A natureza não organizada convertida em jardins arquitectados por humanos, assim como o faz com a sexualidade, controlando a suas dimensões ocultas.
A Natureza da Margem é uma viagem colectiva a um mundo oculto regido pela sexualidade e a natureza, as obras de cada artista são testemunhos individuais dessa incursão misteriosa. Guiamos os visitantes por um gabinete de curiosidades que descreve e classifica esse ambiente através do conjunto multidisciplinar de obras.
Frederico Pompeu ilustra-nos um mundo botânico fantástico, trazendo consigo alguns desses espécimes exóticos. Com registo fotográfico analógico Pedro Ivan dá-nos a ver corpos humanos através de uma radiografia botânica, num jogo de fusão entre corpos humanos e flora criando figuras míticas. Entidades de todas as formas desfrutam desde mundo, Gezo Marques esculpe-nos corpos de madeira que emergem da densa vegetação, Margarida Oliveira utiliza a azulejaria numa interessante abordagem sobre o corpo feminino, José Aparício Gonçalves com as suas colagens conta histórias de prazer e com o registo vídeo de Tales Frey somos transportados para rituais onde o corpo entra em diálogo com o meio ambiente. Elisabete Marques mostra o coração desse mundo vegetal fabricando jardins em madeira e Rita Feliciano constrói com tecido uma figura humana da qual brota uma natureza luxuriante.
Margem é tão-somente uma miragem, afinal percebemos que este é um mundo que se faz de corpos humanos em diálogo com essa ideia utópica de uma natureza primitiva, porque é em corpos que vivemos, somos e nos relacionamos com o mundo, é em corpos que temos prazer e fé.